Quando acaba o luto?

        

        Uma das perguntas que me faço diante da dor lancinante de uma perda é: quando isso acaba? Imaginei que várias pessoas pudessem pensar o mesmo. Por isso, decidi escrever para compartilhar meus pensamentos e reflexões, mas também como tentativa de cura, de colocar em palavras o indizível e quem sabe acomodar minhas perdas de uma forma mais suportável dentro da minha mente. 

        Uma imagem que me vem na cabeça para descrever a experiência do luto é um tsunami. Uma onda gigantesca que chega sem aviso prévio e deixa um rastro de destruição atrás de si. É assim que me sinto quando perco alguém amado. Dizimada, destruída. A vontade é de não amar nunca mais pra não perder nunca mais. Quando a gente termina um relacionamento a gente diz: não quero mais me casar novamente. Quando perdemos um bichinho de estimação é comum falarmos: não quero mais cachorro na minha casa! Ou quando perdem os um ente muito querido podemos ter medo de amar outras pessoas com a mesma intensidade. 

        Quando amamos desfrutamos de momentos bons: o amor que sentimos do outro, a presença do corpo, as risadas, as brincadeiras, o cheiro do outro...tantas coisas. só sofremos porque amamos demais. E como é difícil se despedir e saber que esses momentos vão existir só na nossa memória. Como isso tudo dói! O trabalho do luto é a nossa libido se desligando dolorosamente do que se foi e ficando sem destino dentro de nós. Queremos recusar a perda, negar. 

        Penso que uma saída possível para o luto é quando podemos voltar a amar. Quanto tempo ele demora? Caro leitor, eu não sei. Só sei que demora. Cada um vive a sua experiência no seu tempo. Mas se podemos voltar a amar mesmo sabendo que perder dói muito, voltamos a viver, a poder fruir de coisas boas, a libido pode ser dirigida novamente para fora de nós e se ligar a novos amores. 

        Só podemos amar quando aceitamos perder.

Tamires Moreira

Psicóloga e Psicanalista

16 99617 9482

www.psitamiresmoreira.com.br