Idealização e Big Brother


    Todos nós temos ou já tivemos ídolos. Admiramos pessoas, nos baseamos no sucesso ou personalidade de alguém, desejamos até ser como tal pessoa. O ídolo é a pessoa com a qual queremos nos parecer. Na nossa mente o ídolo é perfeito, não erra, não tem faltas. Nos identificamos com ele. Na verdade projetamos no ídolo partes nossas, ou que gostaríamos de ter em nós. O ídolo exagera essas partes, escancara, ele é muito melhor que nós. Ele é humilde, ele forte, ele é a vítima, ele só fala a verdade. Idolatramos.

    Acontece que quando idealizamos pessoas de carne e osso, como nós, essas pessoas erram e acabam nos mostrando que esse posto idealizado na verdade não existe. As vezes aceitamos as falhas e faltas, os ídolos viram humanos, nós mesmos nos tornamos humanos, e seguimos em frente.

    Mas pode ser também que suportar a falta seja por demais dolorido e então começamos a negar a humanidade do ídolo. Porque dizer que ele é falho é dizer que nós somos falhos, nossas ideias, o que acreditamos, não são a verdade absoluta, não servem pra todo mundo, e então sentimos que não somos tão bons assim. Para que isso não aconteça, rapidamente saímos em defesa do ídolo e tentamos consertar qualquer tipo de ação incoerente dele. Damos voltas no pensamento, aceitamos comportamentos inaceitáveis, justificamos falas impróprias. 

    Quando penso nesse assunto lembro dos ídolos produzidos pela indústria cultural, dos políticos, e mais recentemente do Big Brother Brasil. Escolhemos um favorito, o ídolo, este deve sempre acertar, ele nos representa. Defendemos essa pessoa que acabamos de conhecer com unhas e dentes, colocamos nossas ideias nela, discutimos com amigos e parentes por causa desses desconhecidos que cremos conhecer muito bem e serem tão perfeitos. Ídolos. Partes de nós que projetamos em um outro.

    Esquecemos que são humanos, e que nós também somos humanos. Se o ídolo está certo nós nos sentimos bons, os donos da verdade. Se ele se mostra errado precisamos nos defender para não sentir que somos maus. Nenhum de nós é perfeito, nenhum de nós é ídolo. Aceitar a imperfeição do outro e a nossa é poder discordar até de quem admiramos, é amadurecer. Somos bons, as vezes maus, somos humanos.


Tamires Moreira
Psicóloga e Psicanalista
16 99617 9482
www.psitamiresmoreira.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Convidar o sujeito a nascer: a aposta da psicanálise no autismo

Desconexão Consciente: O Impacto das Telas na Criatividade e no Pensamento Crítico

Anna O.: O Que Freud Não Contou?