Porque Bebê Rena fez tanto sucesso?
Semana passada terminei de assistir Bebê Rena, série disponível na Netflix. Pela primeira vez eu assisti a série no tempo certo. Normalmente assisto quando todos já estão fartos de falar sobre o tema e as atenções já se voltaram para algo mais chocantemente novo e fresco.
Outro provável motivo para o sucesso da série é que ficamos nos perguntando: mas porque ele tem tanta resistência em denunciar Martha e se afastar dela de uma vez por todas? Ao invés disso, muitas vezes ele se aproxima dela, ele a procura. É que Donny não consegue falar sobre a violência que sofreu de início. Seu sofrimento não é ouvido empaticamente, acolhido, validado, como depois acontece quando ele consegue contar sua história. E eu não culpo Donny por não ter conseguido falar, é muito difícil falar mesmo. Os sentimentos são tão doloridos que para se defender a vítima se identifica com o agressor. Afinal o agressor parece forte, parece sempre machucar e nunca ser machucado, como se tivesse um super poder. Martha e Donny se entendiam nesse ponto, os dois sofreram traumas, os dois estavam feridos demais. Donny a entendia, tinha dó dela, e quem sabe até achasse que ele merecia aquilo? A culpa acompanha a vítima de abuso.
Donny finalmente consegue falar, é acolhido pelos pais, pelo público, seu trauma é validado. O rapaz começa a se sentir mais acolhido, menos culpado. Mas a série deixa claro que não é um processo fácil. Ele tem altos e baixos, consegue denunciar Martha, mas passa quase que por um luto. Entendemos que ele gostava de ser elogiado por ela, já que ele guarda e escutas as ligações de Martha nas quais ela falava bem dele. Tudo isso nos faz acreditar que Donny está muito frágil e que os elo
gios de Martha parecem ser as únicas coisas boas que ele encontra em meio a tanto sofrimento. Como se fossem uma boia no meio de uma enchente pesada e cheia de lama.
Penso que boas séries nos fazem pensar sobre o que guardamos dentro de nós. Bebê Rena é uma dessas séries. Em Bebê Rena encontramos a representação do quanto é sofrido, lento, trabalhoso, o processo de reconhecer, falar e elaborar um trauma.

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