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Por que é tão difícil mudar? Entenda a repetição de padrões a partir do filme Steve

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Mudar é uma das experiências mais desejadas e, ao mesmo tempo, mais difíceis para qualquer pessoa. Mesmo quando queremos transformar algo em nossas vidas, muitas vezes nos vemos repetindo os mesmos padrões, escolhas e comportamentos. Mas por que isso acontece? O filme Steve oferece uma ótima oportunidade para pensar sobre essa pergunta. Neste artigo, vamos explorar por que é tão difícil mudar, como a repetição inconsciente atua na nossa vida e como a psicanálise pode ajudar nesse processo — tudo isso a partir da história de Shy, um adolescente que luta para ser acolhido. A história de Shy em Steve: quando faltar acolhimento impede a mudança No filme, Steve é diretor de uma escola voltada para reabilitar adolescentes vindos de contextos sociais complexos. Entre eles está Shy, um jovem explosivo, deprimido e com grande dificuldade de confiar nos adultos ao seu redor. Descobrimos que sua família não consegue acolhê-lo. Em uma cena dura, sua mãe diz que não quer mais contato, afirmando que...

Convidar o sujeito a nascer: a aposta da psicanálise no autismo

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  Recentemente tenho lido sobre o atendimento psicanalítico de pessoas com autismo. Fiquei impressionada com a qualidade e quantidade de conhecimento que se produz hoje na psicanálise sobre o autismo e o atendimento clínico de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A Psicanálise cresce a cada dia, contando com a contribuição de psicanalistas criativos para o desenvolvimento de uma teoria e técnica cada vez mais condizente com a atualidade e que possa ser terapêutica para os pacientes. Gostaria de falar brevemente sobre o que a psicanálise propõe hoje para o tratamento de pessoas com autismo, mas antes quero fazer um parênteses.       É comum que a psicanálise seja criticada e até contra indicada, no caso do TEA, por profissionais da saúde. Penso que uma das causas seja a falta de conhecimento sobre como a psicanálise poderia contribuir para o desenvolvimento de pessoas com TEA. Mas mais que isso, me parece que o tratamento de pessoas com autismo já te...

Anna O.: O Que Freud Não Contou?

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          Anna O. foi a primeira paciente da psicanálise. Digo da Psicanálise porque ela não era paciente de Freud — na verdade, Freud nunca a atendeu. Seu contato com o caso de Anna O. se deu por meio de Josef Breuer, seu mentor e amigo pessoal. Na ocasião, Freud ficou curioso e surpreso com o método empregado por Breuer no tratamento da histeria: a hipnose.      Quinze anos separam os atendimentos de Bertha Pappenheim, nome verdadeiro de Anna O., da publicação do caso em Estudos sobre a Histeria (1895). Nesse período, Freud concluiu seus estudos em medicina e entrou em contato com as experiências de Charcot, que também utilizava a hipnose para tratar a histeria. Era uma área ainda pouco explorada, e Freud enxergou ali a oportunidade de se tornar um grande desbravador e ser lembrado por suas pesquisas. Assim, convenceu Breuer a publicar o caso, mesmo contra a vontade do amigo.      O caso foi retomado em 1909, no primeiro dia...

Desconexão Consciente: O Impacto das Telas na Criatividade e no Pensamento Crítico

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Recentemente, ouvi uma psicóloga e uma neurocientista, Anna Lúcia Spear King e Suzana Herculano-Houzel respectivamente, no Podcast O Assunto, falarem sobre os impactos das telas em nosso cérebro. Elas diziam que o problema não é apenas o excesso de dopamina, que nos vicia em uma busca constante por prazer imediato, mas também as alterações nas redes neuronais. Nosso cérebro é plástico, ou seja, ele se adapta e cria novos caminhos sempre que aprendemos algo. Com o uso excessivo das telas, essas redes são modificadas, prejudicando nossa concentração, aprendizado e capacidade de lidar com a gratificação adiada. Ao refletir sobre isso, percebi o impacto que as telas têm tido em minha vida. Apesar de usar as redes sociais para divulgar meu trabalho, notei que gastava muito tempo “desligando meu cérebro” — com a desculpa de relaxar ou me recompensar após um dia difícil. Decidi, então, realizar uma experiência: reduzi gradualmente o tempo que passava nas redes sociais. O processo foi des...

A quem pertence o desejo do sujeito contemporâneo?

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Thomas Couture, Les romains de la décadence, 1847, Musée d'Orsay, Paris, France Ando pensando que nosso desejo sexual tem dono. Freud chocou a sociedade escancarando a repreensão sexual e suas consequências no início do século passado. As mulheres frígidas, histéricas, os homens neuróticos obsessivos, neurastemicos. A psicanálise vem se ocupando desse assunto (e de outros) há mais de um século.  O que mudou? A gente transa com mais ou menos liberdade depois de mais de 100 anos após a publicação de Três ensaios sobre a teoria sexual? Nos utilizamos tanto da repressão sexualmente quanto aquela sociedade em que Freud criou a psicanálise? Conseguimos fruir do sexo sem desenvolver tantos sintomas? Apesar da maior liberdade que conquistamos para falar sobre o sexo, hoje ainda, muitos assuntos são tabus. Pensando sobre a nossa realidade em 2024, me pergunto: se pudéssemos comparar a vida sexual das pessoas há 100 anos atrás, será que hoje falamos demais e fazemos menos?  ...

Porque Bebê Rena fez tanto sucesso?

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     Semana passada terminei de assistir Bebê Rena, série disponível na Netflix. Pela primeira vez eu assisti a série no tempo certo. Normalmente assisto quando todos já estão fartos de falar sobre o tema e as atenções já se voltaram para algo mais chocantemente novo e fresco.       Bebê Rena me surpreendeu, o tema é muito mais profundo do que eu pensava. Nas redes sociais a minissérie ganhou destaque, conhecidos comentavam sobre. Matha e Donny  viraram tema de sessões de análise e eu fiquei me perguntando qual era o motivo da repercussão repentina da trama. Será que grande parte do público pode ter se identificado com alguma parte dessa história baseada em fatos reais? Não que todos tenham sido perseguidos por uma Matha ou sofrido um abuso sexual como Donny, mas a série fala sobre violência e traumas, por isso, a história de Bebê Rena passa pela tangente da história de muitas pessoas.       Outro provável motivo para o sucesso...

Idealização e Big Brother

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     Todos nós temos ou já tivemos ídolos. Admiramos pessoas, nos baseamos no sucesso ou personalidade de alguém, desejamos até ser como tal pessoa. O ídolo é a pessoa com a qual queremos nos parecer. Na nossa mente o ídolo é perfeito, não erra, não tem faltas. Nos identificamos com ele. Na verdade projetamos no ídolo partes nossas, ou que gostaríamos de ter em nós. O ídolo exagera essas partes, escancara, ele é muito melhor que nós. Ele é humilde, ele forte, ele é a vítima, ele só fala a verdade. Idolatramos.      Acontece que quando idealizamos pessoas de carne e osso, como nós, essas pessoas erram e acabam nos mostrando que esse posto idealizado na verdade não existe. As vezes aceitamos as falhas e faltas, os ídolos viram humanos, nós mesmos nos tornamos humanos, e seguimos em frente.      Mas pode ser também que suportar a falta seja por demais dolorido e então começamos a negar a humanidade do ídolo. Porque dizer que ele é falho é dizer ...